A história do Karate
Antes de falar seja do que for sobre a história do karate, primeiro que nada temos que perceber o que significa a palavra karate e só depois ir à descoberta das suas origens
O significado
Para contarmos a história do karaté primeiro temos que saber o seu significado. E ao contrário do que possam estar a pensar, o seu significado é bem simples. A palavra karaté tem origem japonesa e significa mãos vazias. Este simples significado pode ser visto de várias maneiras: Lutar sem armas, usando apenas corpo, a mente, os braços e as pernas, ou seja, todo o corpo como uma arma para a defesa pessoal.
O Mestre Funakoshi defendia que “mãos vazias”também podia significar em esvaziar a mente, livrar-se do apego às coisas materiais.
A história do karate e onde tudo começou
A história do karaté começa numa ilha chamada Okinawa, que fica a 480 quilómetros a sul do Japão. É uma ilha pequena, com apenas 115 quilómetros quadrados e com um clima subtropical, onde pode ocorrer até 45 tufões num ano.
Okinawa pertenceu à China durante toda a dinastia Ming, e escusado será dizer que o intercambio cultural foi inevitável. Mas após a dinastia Ming, Okiwana passa a ser dominada pelo Japão, que para evitar uma rebelião proíbe o uso de armas de fogo em Okinawa.
E é aqui que começa a historia do karate, quando um monge indiano Bodhidarma vai da Índia até à China para fundar um mosteiro budista e consigo leva também a arte de lutar sem armas, com o simples objetivo de manter a saúde e promover a autodefesa, dando assim o inicio das artes marciais.
O Karaté desenvolveu-se na ilha de Okinawa nas três principais cidades:
SHURI – Cidade onde a realeza e os nobres viviam. O estilo de luta desta cidade era denominado Shuri-tê e o grande mestre era Soken Matsumura.
NAHA – Cidade onde ficava situado o porto da ilha de Okinawa. O estilo desta cidade era denominado Naha-tê e o grande mestre foi Kanryo Higaonna.
TOMARI – Cidade habitada por militares que possuíam habilidades em várias artes de combate. O estilo de luta era o Tomari-tê e seu grande mestre foi Kosaku Matsumura.
O karate nos finais do século XIX
No séc. XIX com a liberação do uso de armas de fogo, a história do karaté muda, pois é a partir daí, que o karaté começa a ser praticado com enfoque em educação física e fundamentação espiritual, sendo introduzido como educação física em 1905.
Nos finais do século XIX, o estilo de luta de Okinawa passou a ser uma arte marcial que trabalhava e desenvolvia o caráter e a componente física de todos os seus praticantes, que eram chamados de karatecas. Contudo, era ainda uma disciplina muito rudimentar que precisava de algumas melhorias práticas. Nesse sentido, o treino marcial precisou de ficar mais simplificado e, como tal, foi dividido em três partes fundamentais:
O Kihon – Tratava-se de um treino específico onde se ensinavam todas as técnicas básicas que eram consideradas os princípios elementares da modalidade;
O Kata – Era um treino específico, onde se simulavam duelos com várias aplicações práticas e onde cada praticante executava todo o tipo de técnicas de combate;
O kumite – É o combate propriamente dito e podia ser simulado, desportivo ou real.
Assim sendo, a “nova” forma de treinar e a implementação de outras técnicas de luta chinesas deram origem ao karaté, como conhecemos hoje. Esta modificação não só reforçou o carácter desportivo desta arte marcial, como também trouxe inúmeras vantagens para todos os seus praticantes, nomeadamente, ao nível da postura, mobilidade, flexibilidade, respiração e relaxamento. Para além de que, a junção de técnicas de luta chinesas e japonesas possibilitou o quebrar de determinadas barreiras culturais que separavam os dois países e aproximou-os na sua essência.
O karate no século XX
A história do karaté chega assim ao início do século XX, nomeadamente no ano de 1902, o karaté tornou-se desporto oficial. Deixou de ser visto apenas como um meio de autodefesa e passou a ser incorporado nos programas de educação física de Okinawa. Esta abertura possibilitou assim que o karaté se alargasse a toda a população e isso atraiu milhares de novos praticantes.
E desde então, este desporto foi ficando cada vez mais popular graças às demonstrações que eram feitas pelo mestre Funakoshi Gichin, que assim conseguiu recolher uma enorme simpatia junto dos responsáveis máximos das instâncias principais. No ano de 1912, o karaté passou a ser ensinado na marinha imperial e anos mais tarde (1922) realizou-se o primeiro evento nacional na cidade de Tóquio. Durante este evento, e com a ajuda de Jigoro Kano (fundador do Judo), o karaté começou a ser difundido à escala mundial.
Após a derrota japonesa na 2ª Guerra Mundial, as forças Norte Americanas dominaram o Japão e proibiram a prática do karaté. Contudo, alguns alunos de Funakoshi conseguiram convencer que o karaté era um desporto inofensivo, para além do mais, alguns soldados americanos estavam interessados em aprender aquela nova arte marcial. Assim com a imigração japonesa, o karaté se propagou pelo mundo ganhando adeptos de várias nações do mundo.
Em Maio de 1949, alguns discípulos de Funakoshi criaram uma associação, a Associação Japonesa de Karaté – Japan Karate Association (JKA), cujo escopo principal passava por promover o karaté em todo o mundo.
Após o sucesso de Funakoshi, outros mestres de Okinawa começaram a divulgar os seus estilos de praticar Karate por todo o Japão. A fusão do Karate com a concepção japonesa da Arte Marcial dá origem aos quatro principais estilos de Karate conhecidos até hoje: SHOTOKAN (Gichin Funakoshi), Shito-Ryu (Mabuni), Goju-Ryu (Miyagi) e Wado-Ryu (Otsuka).
O karate na atualidade
No final do milénio passado, especialmente no ano de 1999, na 109ª Sessão do Comité Olímpico Internacional (COI), confirmou-se o reconhecimento da Federação Mundial de karaté – World Karate Federation (WKF) como órgão governativo máximo do karaté mundial. Este facto contribuiu para o reconhecimento do karaté como desporto universal e isso levou-o a figurar como desporto de demonstração nos Jogos Olímpicos de Atenas no ano de 2004. Atualmente, o karaté é um desporto aclamado em todo o mundo e a sua prática atrai milhões de atletas.
O Mestre Nakayama, tendo estudado directamente sob a tutela de Gichin Funakoshi, e do seu filho Gigo, fundou em 1949 a JKA – Japan Karate Association, dando assim início à maior operação de expansão do Karate para lá das fronteiras do Japão.
De modo a tornar esta Arte Marcial mais credível e passível de aceitação no mundo ocidental, Nakayama restruturou as bases do treino de Karate, tendo por base conceitos científicos das ciências do Desporto.
O karate na atualidade
A JKA foi até à data do falecimento do Mestre Nakayama (1987) a mais sólida e produtiva organização internacional dedicada ao Karate Shotokan.
O aparecimento do Karate em Portugal foi alicerçado durante o período de 1962 a 1964, através de um grupo que integrava a Academia de Budo de Lisboa. Estes primeiros passos serviram para fazer vários contatos com organismos internacionais. Após algumas diligências foi possível trazer a Portugal, entre 1964 a 1966, instrutores dos estilos Shotokan e de Shotokai, que ajudaram com grande valia na motivação e na efetivação do treino.
A 8 de Janeiro de 1964 foi atribuído, pela União Portuguesa de Budo, ao Dr. Pires Martins, o 1º título de Agente de Ensino de Karate em Portugal.
Em Portugal até 1985 o Movimento associativo CDAM – Comissão Diretiva das Artes Marciais integrava quase todas as Artes Marciais existentes no país. A partir dessa data e até 1992 dá-se a divisão da CDAM, de onde emergem duas instituições que reivindicam a gestão do Karate Nacional: a FPK – Federação Portuguesa de Karate e a FPKDA – Federação Portuguesa de Karate e Disciplinas Associadas.
A 15 de Junho de 1992 é fundada por aquelas duas federações a FNK-P – Federação Nacional de Karate – Portugal.
Desde então o Karate Português tem procurado desenvolver-se numa outra realidade, sendo o Estatuto de Utilidade Pública atribuído em 1995 à FNK-P, o que significou o reconhecimento (através do INDESP na altura e hoje Instituto Português do Desporto e Juventude, I.P.D.J) da responsabilidade pública da Federação na promoção do Karate Nacional.